Livro do Eclesiaste, 4
Opressão dos fracos. Trabalho inspirado pela inveja. Trabalho sem um fim. Vantagens da sociedade. Mobilidade da sorte. Sentenças relativas ao culto.
III - Desordens sociais
Opressão dos fracos.
[1] Pus-me então a considerar todas as opressões que se cometem debaixo do sol, as lágrimas dos inocentes, que ninguém consola. Os seus opressores exercem sobre eles violência, e não há quem os conforte. •
[2] (À vista disto), felicitei mais os mortos do que os vivos, •
[3] e considerei mais feliz do que uns e outros aquele que ainda não nasceu, ,e que não viu os males que se fazem debaixo do sol. •
Trabalho inspirado pela inveja.
[4] Vi também que todo o trabalho e perícia numa obra, outra coisa não são que emulação de um homem em relação ao seu próximo; nisto há também vaidade e aflição de espírito. •
[5] O insensato cruza as mãos é come a sua própria carne, dizendo: •
É próprio do insensato passar fome antes que trabalhar. Mas é melhor que nos contentemos com o pouco, se o muito se não pode conseguir sem contendas e demasiada aplicação de espirito.
[6] Mais vale um punhadinho com descanso, do que ambas as mãos cheias com trabalho e aflição do espírito. •
Trabalho sem um fim.
[7] Tornando a considerar, encontrei outra vaidade debaixo do sol:
[8] Há um homem que é só, não tem ninguém consigo, nem filho nem irmão; todavia não cessa de trabalhar, nem os seus olhos se fartam de riquezas, (e não faz esta reflexão): Para quem trabalho eu, e me privo destes bens? Nisto há vaidade e trabalho ingrato. •
Vantagens da sociedade.
[9] Melhor é estarem dois juntos, do que um só, porque têm a vantagem da sua sociedade. •
[10] Se um vai a cair, o outro o sustentará. Ai do que está só, porque, quando cair, não tem quem o levante! •
[11] Da mesma forma, se dormirem dois juntos, aquecer-se-ão mutuamente, mas um só como se há-de aquecer? •
[12] Se um dominar outro que está sozinho, dois resistem-lhe; o cordel triplicado dificultosamente se quebra. •
Mobilidade da sorte.
[13] Vale mais um jovem pobre, mas sábio, do que um rei velho e insensato, que já não sabe escutar conselhos, •
[14] Aquele poderá sair, mesmo do cárcere e dos ferros, para ser rei. e outro que nasceu rei acaba na miséria. •
Parece uma alusão a José, que saiu do cárcere para governar o Egipto.
[15] Eu vi todos os viventes, que andam debaixo do sol, com o jovem (príncipe) que se elevava a ocupar o lugar (do velho rei). •
O povo aplaude o jovem príncipe que, com o seu valor, soube ganhar o trono; mas, quão pouco dura a aura popular! A nova geração já não será assim entusiasta.
[16] Todos aqueles, à frente dos quais ele estava, (e o encheram de aplausos) eram um povo infinito em número. Contudo os descendentes (desse povo) não se hão-de regozijar nele; até isto é vaidade e aflição de espírito. •
Sentenças relativas ao culto.
[17] Vê onde pões o pé, quando entras na casa de Deus. Aproximar-se, dòcilmente, para escutar, é muito melhor do que oferecer vítimas à maneira dos insensatos, que só sabem fazer mal. •