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Livro da Sabedoria, 19

Passagem do mar vermelho. Motivo do castigo dos Egípcios. Para glorificar o seu povo, Deus mudou a ordem dos elementos.


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Passagem do mar vermelho.

[1] Mas sobre os ímpios desceu até ao fim a ira de Deus sem misericórdia, porque Deus previa o seu futuro modo de proceder,

[2] isto é, que eles, depois de terem permitido (aos Israelitas) que se fossem, de os terem, até, despedido com grande pressa, arrependidos disto, iriam em seu alcance*

[3] Antes mesmo de haverem terminado o luto, quando choravam ainda junto dos sepulcros dos seus mortos tomaram loucamente outra resolução: aos que tinham mandado embora com rogos, perseguiam depois como a fugitivos.

[4] Levava-os a este (triste) fim uma fatalidade 1 de que eram dignos, fazia-lhes perder a lembrança do que lhes tinha acontecido, para que recebessem plenamente o castigo,

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Uma fatalidade, isto é o endurecimento voluntário de Faraó e dos seus súbditos.

[5] para que, enquanto o teu povo passava maravilhosamente (o mar), eles achassem uma morte estranha.

[6] É que todas as tuas criaturas foram transformadas na sua natureza, obedecendo aos teus mandados, a fim de que os teus servos fossem conservados ilesos.

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Em lugar das suas propriedades e eficiências naturais, toda a criatura tomava outras diversas, por uma ordem particular de Deus, que pode derrogar, em casos e para fins especiais, as leis universais estabelecidas por ele no mundo. É este o conceito de milagre.

[7] E assim uma nuvem fazia sombra ao seu acampamento: onde antes havia água, apareceu terra seca e no Mar Vermelho uma passagem sem embaraço, e um campo viçoso emergiu das ondas impetuosas.

[8] pelo qual passou todo o povo que era protegido pela tua mão, espectador dos teus maravilhosos prodígios.

[9] Alegraram-se como cavalos nas suas pastagens, e como cordeiros saltaram (de prazer), glorificando-te a ti, Senhor, que os tinhas livrado.

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Comparação poética para indicar a alegria dos Hebreus, ao serem libertados da escravidão do Egipto.

[10] Recordavam-se ainda do que tinha acontecido no lugar do seu exílio, como a terra, em vez de outros animais, tinha produzido moscas, e, em lugar de peixes, o rio tinha lançado fora multidão de rãs.

[11] Mais tarde viram uma nova casta de aves, quando, levados pela gula, pediram manjares exquisitos:

Motivo do castigo dos Egípcios.

[12] para satisfazer o seu desejo, vieram-lhes da banda do mar codornizes. Porém sobre os (Egípcios) pecadores caíram castigos, não sem aqueles avisos, que antecipadamente lhes foram feitos pela violência dos raios. Sofriam justamente segundo as suas maldades.

[13] porque tinham mostrado uma violentíssima aversão aos estrangeiros. Houve, certamente, quem não quis receber estrangeiros desconhecidos, mas estes (os Egípcios) reduziram à escravidão hóspedes benfeitores.

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Mais detestável que a dos Sodomitas (Gn. 19, 1 e seg.*)_.

[14] E não é tudo; aqueles têm uma desculpa, porque receberam (desde o principio) como inimigos os estrangeiros,

[15] enquanto que estes, depois de terem recebido com alegria a homens que gozavam dos mesmos direitos que eles os atormentaram com sofrimentos cruéis.

[16] Por isso foram feridos de cegueira, como aqueles o tinham sido à porta do justo (Lot), quando, repentinamente cobertos de trevas, buscavam, cada um por seu lado, a entrada da sua porta.

Para glorificar o seu povo, Deus mudou a ordem dos elementos.

[17] Os elementos trocavam entre si suas propriedades, como na harpa os sons mudam de ritmo, conservando a mesma tonalidade. É o que se pode ver claramente pela experiência.

[18] Os animais terrestres tornavam-se aquáticos, e os que nadam passavam para a terra.

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O milagre não perturba o concerto harmonioso produzido pelas leis físicas do universo, mas intervém apenas como uma variante na harmonia. Assim como um músico hábil, sem mudar as cordas do seu instrumento, sabe produzir harmonias diversas, assim Deus, sem mudar a natureza das coisas criadas por ele, sabe tirar delas efeitos diversos.

[19] o fogo, excedendo a sua virtude, ateava-se mais no meio da água, e esta esquecia-se da natureza que tem de o apagar.

[20] As chamas, pelo contrário, não ofendiam as carnes dos frágeis animais que andavam entre elas, nem dissolviam aquele delicioso manjar, que se desfazia tão facilmente como o gelo. Em todas as coisas, Senhor, tu glorificaste o teu povo, honraste-o, não o desprezaste, assistindo-lhe em todo o tempo e em todo o lugar.

Sabedoria, 19