Livro da Sabedoria, 18
Morte dos primogénitos. Flagelo passageiro para os Israelitas.
[1] Entretanto (Senhor) os teus santos tinham uma luz brilhantíssima; (os Egípcios) ouviam a sua voz, porém não viam a sua forma, e, apesar dos sofrimentos passados, proclamavam-nos (aos Israelitas) venturosos. •
[2] Davam-lhes graças porque, depois de haverem sido ofendidos, não se vingavam, e pediam-lhes perdão de os haverem tratado como inimigos.
[3] Tu deste (Senhor), em vez das trevas, uma coluna de fogo (aos teus fiéis), como guia num caminho desconhecido, como sol inofensivo na sua gloriosa peregrinação. •
[4] Bem mereciam ser privados da luz e sofrer um cárcere de trevas, aqueles que tinham encerrado em prisões os teus filhos, por meio dos quais devia ser dada ao mundo a luz incorruptível da tua lei. •
Morte dos primogénitos.
[5] Quando eles resolveram matar os filhos dos justos, e foi salvo um destes meninos que tinha sido exposto, tu Ihes tiraste, para seu castigo, a multidão de seus filhos, e juntos os destruístes no abismo das águas. •
Um destes: Moisés.
[6] Aquela noite tinha sido conhecida, de antemão por nossos pais para que, sabendo eles com verdade a que promessas deram crédito, ficassem os seus ânimos mais corajosos. •
A noite da morte dos primogênitos e da saída do Egipto tinha sido predita por Moisés aos Hebreus (Ex. 11, 4-11; Ex. 12, 21-28).
[7] E assim o teu povo esperou a salvação dos justos e o extermínio dos injustos.
[8] Da mesma forma que tu castigaste os nossos adversários, assim também, chamando-nos a ti, nos engrandeceste.
[9] Os justos, filhos dos bons, ofereciam-te, em segredo, o sacrifício, e estabeleciam de comum acordo este pacto divino: Que (no mundo) os santos participariam igualmente tanto dos bens como dos males, cantando já os hinos de seus pais. •
Os justos, os Israelitas imolavam o cordeiro pascal no segredo das suas casas (Ex. 12, 1-28), e em seguida cantavam hinos sagrados.
[10] (Ao mesmo tempo) ouviam-se as vozes confusas dos seus inimigos, e os lamentáveis prantos dos que choravam a morte dos meninos.
[11] Com a mesma pena foram afligidos o servo e o senhor, e o homem plebeu padeceu o mesmo que o rei. •
[12] Todos, igualmente, tinham inumeráveis mortos, feridos com a mesma morte. Nem já os vivos bastavam para os enterrar, porque, num instante, foi exterminada a parte mais nobre da nação. •
[13] Então os que tinham incrédulos, por causa dos seus sortilégios, logo que sucedeu o extermínio dos primogênitos, confessaram que aquele era o povo de Deus. •
[14] Quando tudo repousava num profundo silêncio, e a noite estava no meio do seu curso, •
[15] a tua palavra omnipotente, baixando do céu, do trono real, saltou de improviso ao meio da terra condenada ao extermínio, como um implacável guerreiro,
[16] levando, como aguda espada, o teu irrevogável decreto; estando de pé tudo encheu de morte, e, pisando a terra, chegava até ao céu. •
Até ao céu. Hipérbole para descrever o aspecto terrível do anjo exterminador.
[17] Então foram imediatamente perturbados por visões de sonhos horríveis, e temores inesperados os assaltaram. •
[18] Arrojados para um lado e para outro, semimortos, manifestavam a causa da morte que os atingia. •
Por meio de todas as circunstâncias que acompanhavam este flagelo. Deus quis mostrar que era o seu autor.
[19] As visões, que os perturbavam, tinham-lhes revelado isso, para não suceder que morressem sem saber a causa dos males que sofriam.
Flagelo passageiro para os Israelitas.
[20] É verdade que também feriu os justos uma prova de morte, e no deserto houve uma mortandade na multidão, mas a (tua) ira não durou muito tempo. •
A mortandade infligida por causa da sedição de Coré (Nm. 16, 46-50) terminou depressa, devido à intercessão de Aarão.
[21] porque um homem irrepreensível se apressou a interceder pelo povo, servindo-se das armas do seu ministério, a oração e a expiação do incenso. Atalhou os progressos da tua ira e pôs fim ao flagelo, mostrando que era teu servo. •
[22] Não dominou a sedição com a força do corpo, nem com o poder das armas, mas sim com a sua palavra deteve o (anjo) exterminador, recordando os juramentos feitos aos patriarcas e a aliança. •
[23] Quando já os mortos jaziam uns sobre os outros, ele, metendo-se de permeio, deteve a cólera e cortou-lhe o caminho que ia ter aos vivos. •
[24] Na vestidura talar que trazia estava simbolizado todo o mundo; os nomes gloriosos dos antepassados estavam gravados nas quatro ordens de pedras (preciosas), e a tua soberania estava gravada no diadema da sua cabeça. •
[25] Diante destas coisas retrocedeu o exterminador porque bastava esta simples amostra da ira divina. •