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Livro da Sabedoria, 17

A praga das trevas e as colunas de fogo.


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A praga das trevas e as colunas de fogo.

[1] Grandes são, Senhor, e impenetráveis os teus juízos; por isso as almas sem instrução 1 se desgarraram.

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Almas sem instrução: os Egípcios que, depois de tantos avisos e prodígios, não creram em Deus nem lhe obedeceram.

[2] Os maus, julgando poder dominar o povo santo, prisioneiros das trevas e encadeados, por uma longa noite, jaziam encerrados sob os seus tectos, fugindo (tentando fugir) à (tua) eterna providência.

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As trevas, nona praga do Egipto.

[3] Quando eles julgavam estar escondidos, com os seus pecados secretos, sob o véu tenebroso do esquecimento, foram dispersados, horrendamente espavoridos e perturbados por espectros.

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A escuridão, de que os Egípcios tinham abusado para o crime, (Nm. 14, 23) serviu-lhes de justo castigo.

[4] Nem a caverna, em que se tinham refugiado os guardava do temor: ruídos aterradores ressoavam em sua volta, e espectros melancólicos sinistramente lhes apareciam.

[5] Não havia fogo, por mais ardente que fosse, capaz de lhes dar luz, nem as brilhantes chamas das estrelas podiam iluminar aquela horrorosa noite.

[6] Só lhes aparecia um clarão repentino e temeroso; amedrontados por esta visão, cuja causa ignoravam, julgavam mais formidáveis (do que eram) tais aparições.

[7] Então caíam por terra as ilusões das artes mágicas, e a sua sabedoria, pretensa sabedoria cobria-se de vergonhoso descrédito.

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Ficaram impotentes para frustrar as pragas infligidas por Deus contra os Egípcios.

[8] Os que prometiam banir os temores e as perturbações das almas desfalecidas, esses mesmos estavam deprimidos, cheios dum medo ridículo.

[9] Ainda que nada de terrível os perturbasse, assustados com a passagem dos animais e com os silvos das serpentes, morriam tremendo de medo, e nem mesmo queriam 1 ver o ar, que ninguém de modo algum pode evitar.

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Nem mesmo queriam... Os Egípcios, no meio do seu terror, nem sequer queriam lançar os olhos para o ar tenebroso que os cercava.

[10] A maldade é medrosa e condena-se por seu próprio testemunho; oprimida pela consciência, supõe sempre o pior.

[11] O temor não é outra coisa senão a privação dos socorros trazidos pela reflexão.

[12] Quanto menor for, no fundo do coração, a esperança de auxílio, tanto maior o receio de ignorar a causa dos tormentos.

[13] Aqueles, pois, que, nessa noite 1 verdadeiramente impossibilitante, saída do mais baixo e profundo do orco, dormiam um mesmo sono,

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Nessa noite que tornava impossível a vida e que parecia ter saído do inferno.

[14] umas vezes eram agitados por espectros aterradores, outras desmaiavam pelo desfalecimento do seu espírito, porque os sobressaltava um repentino e inesperado temor.

[15] Depois disto, se algum deles, fosse quem fosse, caía sem força, ficava como preso e encerrado num cárcere sem ferros.

[16] Tanto o camponês como o pastor, ou o que se ocupava nos trabalhos do campo, se eram assim surpreendidos, ficavam sujeitos a uma necessidade 1 inevitável,

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Sofria uma necessidade... As pessoas assim surpreendidas tiveram de ficar no meio do campo sem se poderem mover, até que o flagelo terminou.

[17] porque todos estavam ligados com uma mesma cadeia de trevas. Ou fosse o vento quando assoprava, ou o suave canto dos pássaros entre os espessos ramos de árvores, ou a violência da água, correndo precipitadamente,

[18] ou o fragor das pedras que se despenhavam, ou a carreira invisível de animais que saltavam, ou o forte rugido das feras, ou o eco que reboava na concavidade dos montes, — tudo os fazia desfalecer de terror,

[19] Entretanto todo o resto do mundo estava alumiado com uma luz clara, e ocupava-se nos seus trabalhos sem obstáculo algum.

[20] Somente sobre eles pesava uma profunda noite, imagem das trevas que lhes estavam reservadas. Mas eram a si mesmos 1 mais insuportáveis do que as próprias trevas.

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Mas eles eram a si mesmos... Não há maior tormento para a alma do que o remorso causado pelas maldades próprias.

Sabedoria, 17