Livro dos Provérbios, 8
A sabedoria faz o seu elogio para ganhar os corações. Seus dotes. Origem eterna da sabedoria. Felicidade daquele que possui a sabedoria.
III - Terceira série de exortações
A sabedoria faz o seu elogio para ganhar os corações.
[1] Porventura a sabedoria não está repetidas vezes clamando, e a prudência não faz ouvir a sua voz? No mais alto e elevado das eminências, ao longo do caminho, nas encruzilhadas ela está de pé, •
[3] junto às portas da cidade, na mesma entrada ela fala, dizendo: •
[4] A vós, ó homens, é que eu estou continuamente clamando, e aos filhos dos homens é que se dirige a minha voz. Aprendei, ó inexperientes, a prudência, e vós, insensatos, tomai inteligência.
Seus dotes.
[6] Ouvi, porque tenho de vos falar acerca de grandes coisas, e os meus lábios se abrirão, para anunciarem o que é recto. A minha boca publicará a verdade, e os meus lábios detestarão o ímpio.
[8] Todas as minhas palavras são justas, nelas não há coisa tortuosa nem perversa.
[9] Todas são rectas para os inteligentes, e de equidade para os que encontraram a ciência.
[10] Recebei as minhas instruções com maior gosto do que dinheiro, preferi a ciência ao oiro fino. •
[11] Vale mais a sabedoria que as pérolas, e tudo quanto é apetecível não se pode comparar com ela.
[12] Eu, a sabedoria, tenho comigo o (bom) conselho, possuo a ciência e a reflexão. •
[13] O temor do Senhor odeia o mal. Eu detesto a arrogância e a soberba, o caminho corrompido e a língua perversa.
[14] Meu é o conselho e a equidade, minha é a inteligência, minha a fortaleza.
[15] Por mim reinam os reis, e por mim decretam os legisladores o que é justo. •
[16] Por mim imperam os príncipes, e os soberanos governam com rectidão.
[17] Eu amo os que me amam, e o que me busca encontrar-me-á.
[18] Comigo estarão as riquezas e a gloria, a sólida opulência e a justiça. •
[19] Melhor é o meu fruto que o oiro mais fino, as minhas produções melhores que a prata mais pura. •
[20] Eu ando nos caminhos da justiça, no meio das veredas da equidade, •
[21] para enriquecer os que me amam, para encher os seus tesouros. •
Origem eterna da sabedoria.
[22] O Senhor me possuiu no princípio de seus caminhos, desde o princípio, antes que criasse coisa alguma. •
O elogio da sabedoria atinge aqui o sublime. O próprio Deus serviu-se da sabedoria para arquitectar este maravilhoso universo. O sábio, nesta passagem, amplifica e aprofunda o pensamento brevemente anunciado no cap. Pv. 3, 19-20, mas apresenta-nos a sabedoria sob um conceito novo. Esta não é para ele uma abstracção, é um ser concreto, vivo, que opera ao lado de Deus. Não é, porém, uma criatura, é um ser divino, porque existia antes que Deus criasse qualquer coisa (Pv. 8, 22-26), e concorreu para a criação de tudo (Pv. 8, 27-31). É a sabedoria eterna, a segunda pessoa da Santíssima Trindade, que incarnou em Jesus Cristo.
[23] Desde a eternidade fui constituída, desde o princípio, antes que a terra fosse criada. •
[24] Ainda não havia os abismos, e eu estava já concebida, ainda as fontes das águas não tinham brotado, •
[25] ainda se não tinham assentado os montes sobre as suas bases; antes de haver outeiros, eu tinha já nascido.
[26] Ainda ele não tinha criado a terra, nem os campos, nem o primeiro pó da terra. Quando ele preparava os céus, eu estava presente; quando, por uma lei inviolável, encerrava os abismos dentro dos seus limites; •
[28] quando firmava lá no alto a região etérea, e quando equilibrava as fontes das águas; •
[29] quando circunscrevia ao mar o seu termo, e punha lei às águas, para que não passassem os seus limites; quando assentava os fundamentos da terra, •
[30] eu estava com ele, como arquitecto; cada dia me deleitava, recreando-me 1 continuamente diante dele, •
Recreando-me... Estas palavras mostram a satisfação da Sabedoria do Criador, ao contemplar as obras que produzia. Mas, entre essas obras, é no homem que a Sabedoria criadora mais se compraz (e achando as minhas delícias...)
[31] recreando-me 1 sobre o globo da terra, e achando as minhas delícias 1 em estar com os filhos dos homens. •
Felicidade daquele que possui a sabedoria.
[32] Agora, pois, meus filhos, ouvi-me: Bem-aventurados os que seguem os meus caminhos.
[33] Ouvi as minhas instruções, e sede sábios, não queirais rejeitá-las. •
[34] Bem-aventurado o homem que me ouve, e que vela todos os dias à entrada da minha casa, e que se conserva à porta da minha casa. •
[35] Aquele que me achar, achará a vida, e alcançará o favor do Senhor. •
[36] Aquele, porém, que pecar contra mim, fará mal à sua alma. Todos os que me odeiam amam a morte. •