Cânticos dos Cânticos, 2
Esposo. Esposa. Esposo às filhas de Jerusalém. Esposa.
[1] Eu sou a flor do campo, o lírio dos vales. •
Amabilidade de Cristo e da Igreja, sua esposa. Louvores que ela lhe dá. Favores que ele lhe faz. Cuidado que tem, para que nada perturbe a alegria e sossego, que ela tem nele.
Esposo.
[2] Como lírio entre os espinhos, assim é a minha amiga entre as donzelas. •
Santo Agostinho aplica este texto à Igreja, que é como a açucena entre os espinhos da perseguição.
Esposa.
[3] Como a macieira entre as árvores dos bosques, assim é o meu amado entre os jovens. Sentei-me à sombra 1 daquele a quem tanto tinha desejado, e o seu fruto é doce à minha boca. •
Sentei-me à sombra... Maneira de dizer que se tornou sua esposa e que goza do seu amor celeste.
[4] Ele introduziu-me na sala do festim, desfraldou contra mim a bandeira do amor. •
[5] Confortai-me com doces de uvas passas, fortalecei-me com frutos, porque desfaleço de amor. •
A esposa, sentindo-se desfalecer de amor divino, suplica às suas companheiras que a auxiliem a voltar a si.
[6] A sua mão esquerda está debaixo da minha cabeça, e a sua mão direita abraça-me. •
As mãos de Jesus Cristo sustentam e consolam a Igreja.
Esposo às filhas de Jerusalém.
[7] Eu vos conjuro, filhas de Jerusalém, pelas gazelas e corças do campo, que não perturbeis nem acordeis a minha amada, antes que ela queira. •
Pede que a esposa, a Igreja, não seja perturbada no seu êxtase de amor divino.
CANTO II
Solilóquio da esposa
Esposa.
[8] Ouço 1 a voz do meu amado! Ei-lo aí vem, saltando sobre os montes 1, pulando sobre os outeiros. •
Ouço... A Igreja manifesta a sua alegria pela chegada de Cristo, impacientemente esperado. — Saltando pelos montes... São muitos os obstáculos que se opõem à vinda do Salvador, mas a sua caridade vence-os.
[9] O meu amado é semelhante 1 a uma gazela e a um veadinho. Ei-lo que está por detrás da nossa parede, olhando pelas janelas, espreitando através das gelosias. •
É semelhante, é gracioso e ágil como uma gazela.
[10] Eis o meu amado, que me diz: Levanta-te, rainha amada, formosa minha e vem (ao campo). •
[11] Eis que já passou o inverno, já se foram, cessaram de todo as chuvas. •
[12] Apareceram as flores na nossa terra, chegou o tempo dos cantares, ouviu-se na nossa terra a voz da rola; •
[13] a figueira começou a brotar os seus figos, as vinhas em flor espalham o seu perfume. Levanta-te, amiga minha, formosa minha, e vem ! •
[14] Pomba minha, tu (que te recolhes) nas aberturas da pedra 1, nas fendas dos rochedos escarpados, mostra-me a tua face, ressoe a tua voz aos meus ouvidos, porque a tua voz é doce, e a tua face graciosa. •
Nas aberturas das pedras... Alusão ao costume frequente que têm as pombas de fazer os seus ninhos nas fendas dos rochedos.
[15] Apanhai-nos as raposas, as raposas pequenas 1 que destroem as vinhas, porque a nossa vinha está já em flor. •
As raposas simbolizam aqui os herejes, que são astutos como elas. É preciso detê-los, logo no princípio, quando ainda são pequenos (raposas pequenas), de contrário, serão mais tarde a desolação da igreja.
[16] O meu amado é para mim e eu para ele, apascenta (o seu rebanho) entre os lírios! •
[17] Antes que chegue o fresco do dia e se inclinem as sombras, volta! Sê semelhante, amado meu, à gazela e ao veadinho, (que corre) sobre os montes de Beter. •