Profecia de Baruch, 6
Exórdio e tema. Vários argumentos para demonstrar a vaidade dos ídolos: São imagens mentirosas, são tratados como os mortos, não podem fazer mal nem bem aos homens, recebem um culto louco e torpe, são obra das mãos dos homens, nada podem fazer, são inúteis a si e aos homens, são mais miseráveis que os animais, serão o opróbio numa região.
APÊNDICE - Carta de Jeremias aos exilados
Cópia da carta que Jeremias mandou aos cativos, que, pelo rei dos Babilônios, iam ser deportados para Babilônia, a fim de lhes anunciar o que Deus lhe tinha mandado (dizer-lhes).
Exórdio e tema.
[1] Por causa dos pecados que cometestes diante de Deus, sereis levados cativos a Babilônia, por Nabucodonosor, rei dos Babilônios. •
[2] Uma vez chegados a Babilônia, estareis ali muitos anos, largo tempo, até sete gerações; depois disto, vos tirarei de lá em paz. •
Até sete gerações. Como o cativeiro havia de durar setenta anos, segundo o tinha predito o mesmo Jeremias, no cap. 25, vers. 11 e 12, parece que cada dez anos considera aqui o profeta uma geração.
[3] Ora, ides ver em Babilônia que são levados aos ombros deuses de prata, de ouro e de madeira, que metem medo às gentes. •
[4] Vêde, pois, não suceda que vos torneis semelhantes no procedimento aos estrangeiros, a ponto de vos deixardes possuir do temor desses deuses. •
[5] Quando virdes, detrás e diante deles, a multidão que os adora, dizei em vossos corações; Tu, Senhor, é que deves ser adorado.
[6] Porque o meu anjo está convosco, e ele tomará cuidado das vossas vidas. •
Vários argumentos para demonstrar a vaidade dos ídolos: São imagens mentirosas,
[7] Porque a língua desses ídolos foi polida por um artista, e eles, (apesar de) dourados e prateados, são um puro engano e não podem falar. •
[8] Como se fazem adornos para uma donzela que gosta deles, assim se toma ouro e se fabricam coroas para colocar na cabeça de tais deuses. •
[9] Às vezes os sacerdotes despojam os seus deuses do ouro e da prata, gastando isso em seus próprios usos •
[10] ou dando-o até às prostitutas, nas suas casas. Enfeitam os seus deuses, como se fossem homens, esses deuses de prata, de ouro e de madeira, •
[11] Estes não se defendem da ferrugem nem da traça.
[12] Depois de os terem revestido de púrpura, limpam-lhe o rosto por causa do muitíssimo pó que se levanta no templo. •
[13] (Eis um que) tem um ceptro na mão, corno governador de província, mas não mata a quem ofende. •
[14] (Eis outro que) tem na mão uma espada e um cutelo, mas não se pode livrar a si mesmo da guerra nem dos ladrões. Por aqui claramente se vê que não são deuses; •
[15] portanto não os temais. Como uma vasilha, se se quebra, fica inútil para o homem, assim são também os seus deuses. •
[16] Colocados numa casa, os seus olhos enchem-se de pó levantado pelos pés dos que entram.
[17] Assim como se fecham as portas da prisão àquele que ofendeu o rei e que vai ser morto, do mesmo modo seguram os sacerdotes as portas dos templos com fechaduras e ferrolhos, para que (os seus deuses) não sejam despojados pelos ladrões.
[18] Acendem-lhes lâmpadas, e em maior número que para si próprios, mas os deuses não podem ver nenhuma. •
[19] São como as traves do templo, cujo interior é corroído, segundo se diz, pelos vermes que saem da terra; porém, quando os roem a eles e às suas vestes não o sentem. •
[20] Negro se torna o seu rosto com o fumo que se eleva na sua casa.
[21] Sobre o seu corpo e sobre a sua cabeça esvoaçam os mochos, as andorinhas e outras aves, e também saltam os gatos. •
[22] Por isto bem vedes que não são deuses; portanto não os temais.
são tratados como os mortos,
[23] O ouro que os cobre, serve para os embelezar, mas se alguém lhes não limpar o empanamento, reluzirão. Mesmo quando os fundiam, nada sentiram.
[24] Por alto preço são comprados, e não há neles espírito de vida. •
[25] Não tendo pés (capazes de andar), são levados sobre os ombros, mostrando aos homens a sua vileza. Devem também envergonhar-se os que os adoram. •
[26] Se caírem em terra, não se levantam por si mesmos; se alguém os põe de pé, não se podem mover; se inclinados, não se podem endireitar. São lhes apresentadas, como a mortos, as oferendas. •
[27] Os seus sacerdotes vendem tais oferendas, para seu proveito; as suas mulheres tomam também uma parte que salgam (para conservar), não dando coisa alguma, nem aos pobres nem aos enfermos. •
[28] As mulheres grávidas e no seu estado de impureza tocam os sacrifícios deles. Sabendo vós, pois. por estas coisas, que não são deuses, não os temais. •
A lei judaica proibia a entrada no templo às mulheres que se encontravam num destes dois estados.
não podem fazer mal nem bem aos homens,
[29] Por que chamar-lhes, pois, deuses? As mulheres fazem oferendas a estes deuses de prata, de ouro e de madeira. •
Entre os Judeus as mulheres não tomavam parte no serviço do culto.
[30] Nos seus templos estão assentados os sacerdotes, de túnicas rasgadas, de cabeça e barba rapadas, de cabeça descoberta. •
Manifestações de luto proibidas aos sacerdotes judeus.
[31] Rugem, fazendo alarido diante dos seus deuses, como num festim fúnebre 1. •
Festim dum morto. São conhecidos estes fúnebres banquetes preparados nas sepulturas dos povos da mais alta antiguidade.
[32] Os sacerdotes tiram-lhes as suas roupagens e com elas vestem as suas mulheres e os seus filhos.
[33] Ainda que (aos ídolos) se lhes faça algum mal ou algum bem, não podem dar o pago. Não podem pôr um rei, nem tirá-lo.
[34] Nem tão pouco podem dar riquezas, nem a mais pequena moeda. Se alguém lhes fizer um voto e não o cumprir, nem disto se queixam. •
[35] Não livram ninguém da morte, nem defendem o fraco do mais poderoso.
[36] Não restituem a vista a um cego, nem livram o homem da sua necessidade.
[37] Não podem compadecer-se da viúva ou fazer bem ao órfão.
[38] São semelhantes às pedras do monte, estes deuses feitos de madeira, cobertos de ouro e prata; os que os adoram serão confundidos.
[39] Como se pode, pois, pensar ou dizer que são deuses?
recebem um culto louco e torpe,
[40] Os próprios Caldeus os desonram: quando sabem que alguém não pode falar, porque é mudo, apresentam-no a Bel, pedindo-lhe que lhe dê fala, como se o deus pudesse ouvir. •
Os desonram, pedindo-lhes coisas que não podem fazer, o que mostra a sua impotência.
[41] São incapazes de reflectir sobre tudo isto e de abandonar esses deuses, tamanha é a sua insensatez! Mesmo, quando se desenganam, os abandonam, porque os seus deuses são insensíveis. •
[42] Mulheres, cingidas de cordas, estão assentadas nos caminhos, queimando farelo. •
Alusão às prostituições em honra dos falsos deuses.
[43] E, quando alguma delas, atraída por qualquer transeunte, dormiu com ele. lança em rosto à sua vizinha que ela não foi julgada digna da mesma honra e de a sua corda se quebrar.
[44] Todas as coisas que se fazem com estes deuses são mentira. Como se pode, pois, crer ou dizer que são deuses?
são obra das mãos dos homens,
[45] Por artistas e ourives foram feitos. Nenhuma outra coisa serão, senão aquilo que querem que sejam os artífices. •
[46] Os mesmos artífices que os fazem, não são de muita duração; como podem, pois. ser deuses os que por eles foram fabricados?
[47] Não deixaram senão engano e opróbrio aos seus descendentes.
[48] Quando sobrevém alguma guerra ou desastre, os sacerdotes consultam entre si sobre onde se hão-de esconder com os seus deuses. •
[49] Como, pois, não se vê que não são deuses os que nem se podem livrar da guerra, nem defender-se das calamidades?
[50] Porque são de madeira, dourados e prateados, vir-se-á a saber, um dia, que são falsos; claro se tornará, para todos os povos e reis, que não são deuses, mas obra da mão dos homens, e que não há neles operação alguma divina. •
[51] Quem, pois não verá claramente que não são deuses? •
nada podem fazer,
[52] Não estabelecerão rei em país algum, nem darão chuva aos homens.
[53] Não decidirão as próprias contendas. nem livrarão da opressão, porque nada podem, como as gralhas que voam entre o céu e a terra. •
[54] Se o fogo se atear na casa desses deuses de madeira, cobertos de prata e de ouro, os seus sacerdotes fugirão e se livrarão, mas eles, como traves, no meio das chamas serão queimados.
[55] Não resistirão a um rei nem a inimigos. Como se pode, pois, admitir ou pensar que são deuses?
são inúteis a si e aos homens,
[56] Não se poderão defender dos ladrões, nem dos salteadores, estes deuses de madeira, dourados e prateados, porque aqueles, sendo mais fortes, •
[57] os despojarão do ouro, da prata e das vestes de que estão cobertos, e se irão com isso embora, sem que tais deuses se possam valer a si mesmos.
[58] Vale, pois, mais ser um rei, que ostenta as suas forças, ou uma vasilha útil na casa, da qual se serve o que a possui, ou uma porta em qualquer casa que guarda o que há dentro dela, ou ainda uma coluna de madeira num palácio, do que ser um destes falsos deuses. •
[59] O sol, a lua e as estrelas, sendo resplandecentes e destinados à utilidade dos homens, cumprem o que lhes foi mandado. •
[60] Da mesma sorte o relâmpago que, quando fuzila, é belo à vista, e o vento que sopra por toda a região,
[61] e as nuvens que recebem de Deus ordem de correr todo o mundo, cumprem o que lhes é mandado.
[62] O fogo, também enviado de cima para que consuma os montes e os bosques, faz o que lhe foi ordenado. Mas estes (deuses) não se assemelham a nenhuma coisa destas, nem em beleza nem em poder.
[63] Por onde não se deve pensar nem dizer que são deuses visto que não podem fazer justiça nem conceder benefícios aos homens.
[64] Por isso, sabendo que não são deuses, não os temais,
são mais miseráveis que os animais,
[65] Não podem amaldiçoar nem abençoar os reis.
[66] Não podem mostrar no céu sinais aos povos, não brilham como o sol nem alumiam como a lua.
[67] Mais do que eles valem os animais, que podem refugiar-se debaixo dum coberto e ser úteis a si próprios.
[68] Não nos é, pois manifesto, de maneira alguma, que são deuses; portanto não os temais,
serão o opróbio numa região.
[69] Porque, assim como um espantalho em um meloal o não guarda, assim são os seus deuses de madeira, cobertos de prata e de ouro. •
[70] São como um espinheiro em um jardim, sobre o qual vêm pousar todas as aves, assemelham-se a um morto lançado em lugar tenebroso, os seus deuses de madeira, cobertos de ouro e de prata. •
[71] Pela púrpura e escarlate que sobre eles se desfazem, sabereis claramente que não são deuses. Eles mesmos por fim serão devorados e tornar-se-ão o opróbrio do país. •
[72] O homem justo que não tem ídolos vale mais do que eles, porque estará longe de opróbrios. •