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Livro Segundo dos Macabeus, 7

Primeiro. Segundo. Terceiro. Quarto. Quinto. Sexto. Coragem da mãe; seus conselhos aos filhos. Morte do sétimo irmão, e da mãe.


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Martírio dos sete irmãos Macabeus, e de sua mãe

[1] Aconteceu também que, tendo sido presos sete irmãos com sua mãe, o rei os queria obrigar a comer carnes de porco contra a lei, atormentando-os para isso com açoutes que lhes davam com azorragues e nervos de boi.

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Estes sete irmãos são chamados Macabeus, porque o seu martírio foi durante a perseguição em que Judas Macabeu e os seus irmãos combateram gloriosamente pela causa de Deus.

Primeiro.

[2] Um deles, em nome de todos, falou assim: Que pretendes, que queres saber de nós? Estamos prontos antes a morrer que a violar as leis de nossos pais.

[3] O rei, irritado, mandou pôr ao lume frigideiras e caldeirões. Logo que ficaram em brasa,

[4] ordenou que se cortasse a língua ao que tinha falado primeiro, e que, arrancado da cabeça o couro cabeludo, lhe cortassem também as extremidades, à vista dos outros seus irmãos e de sua mãe.

[5] Depois de estar assim mutilado, mandou que o chegassem ao fogo e o torrassem na frigideira, quando ainda respirava. Enquanto se difundia largamente o vapor da frigideira, os outros (irmãos) exortavam-se mutuamente com sua mãe, a morrerem corajosamente,

[6] dizendo: O Senhor Deus vê e consola-se em nós, conforme o declarou Moisés no seu cântico de protesto (contra Israel), por estas palavras: Ele será consolado nos seus servos.

Segundo.

[7] Morto deste modo o primeiro, levaram o segundo ao suplício. Arrancado da cabeça o couro cabeludo, perguntavam-lhe se queria comer (das carnes que lhe apresentavam) antes que ser atormentado em cada um dos membros de todo o seu corpo.

[8] Respondendo na língua de seus pais, disse: Não! Pelo que também este padeceu os mesmos tormentos que o primeiro.

[9] Estando já para dar o último suspiro, disse desta maneira: Tu, ó malvado, fazes-nos perder a vida presente, mas (Deus) o Rei do universo nos ressuscitará para a vida eterna, a nós que morremos, por fidelidade às suas leis.

Terceiro.

[10] Depois deste, torturaram também o terceiro. Tendo-lhe sido pedida a língua, ele a apresentou logo, assim como estendeu as mãos corajosamente,

[11] e disse afouto: Do céu recebi estes membros, mas agora os desprezo pela defesa das suas leis, esperando que ele mos tornará a dar um dia.

[12] O próprio rei e os que o acompanhavam admiraram o valor deste jovem, que reputava por nada os tormentos.

Quarto.

[13] Morto este, atormentaram da mesma sorte o quarto.

[14] Quando ele estava já para expirar, disse: Felizes os que são entregues à morte pelos homens, esperando em Deus que hão-de ser por ele ressuscitados; porém, quanto a ti (ó rei), a tua ressurreição não será para a vida.

Quinto.

[15] Em seguida, pegaram no quinto e atormentaram-no. Mas ele, olhando para o rei disse-lhe:

[16] Tu fazes o que queres, porque recebeste o poder entre os homens, ainda que mortal como eles; todavia não cuides que Deus desamparou a nossa nação;

[17] espera e verás quão grande é o seu poder e como ele te atormentará a ti e à tua raça.

Sexto.

[18] Após este, levaram (ao suplicio) o sexto, que, quando estava perto de morrer, disse: Não te iludas; se padecemos isto, é porque o merecemos pelos pecados contra o nosso Deus, pelos quais vêm sobre nós tão espantosos flagelos.

[19] Mas não imagines que hás-de ficar sem castigo, depois de teres empreendido combater contra Deus.

Coragem da mãe; seus conselhos aos filhos.

[20] Entretanto a mãe deles, sobremaneira admirável e digna de memória, vendo morrer os seus sete filhos em um só dia, suportou heroicamente a sua morte, pela esperança que tinha no Senhor.

[21] Cheia de nobres sentimentos, exortava, na língua de seus pais, a cada um deles em particular, dando firmeza, com ânimo varonil, à sua ternura de mulher.

[22] Dizia-lhes; Não sei como fostes formados no meu ventre; não fui eu que vos dei o espírito e a vida, ou que formei os membros do vosso corpo.

[23] O Criador do mundo, que formou o homem no seu nascimento e deu a origem a todas as coisas, vos tornará a dar o espírito e a vida, por sua misericórdia, em recompensa do quanto agora vos desprezais a vós mesmos, por amor das suas leis.

[24] Ora Antíoco, considerando-se desprezado e julgando que aquelas palavras (dos mártires) eram um insulto para ele, como faltasse ainda o mais novo, não somente o exortava, mas ainda lhe assegurava com juramento que o faria rico e ditoso, que o teria na classe dos seus amigos e lhe confiaria altos cargos se abandonasse as leis dos seus pais.

[25] Como o jovem de nenhum modo consentisse em tais coisas, o rei chamou a sua mãe, e aconselhou-a a que fizesse àquele jovem recomendações para salvar a vida.

[26] Depois de a ter exortado com muitas razões, ela lhe prometeu que procuraria persuadir seu filho.

[27] Tendo-se, pois, inclinado para lhe falar, zombando deste cruel tirano, disse-lhe na língua pátria: Meu filho, tem compaixão de mim, que te trouxe nove meses no meu ventre, que te amamente! durante três anos, que te nutri e eduquei até esta idade.

[28] Suplico-te, meu filho, que olhes para o céu e para a terra e para todas as coisas que há neles, e que penses bem que Deus as criou do nada, assim como a todos os homens.

[29] Não temas este algoz, mas sê digno de teus irmãos, aceita a morte, para que eu te encontre com eles no dia da misericórdia.

Morte do sétimo irmão,

[30] Quando ela ainda estava falando, o jovem disse; Que esperais vós de mim? Eu não obedeço ao mandado real, mas às prescrições da lei que foi dada por Moisés a nossos pais.

[31] Quanto a ti, autor de todos os males que oprimem os Hebreus, às mãos de Deus não escaparás.

[32] Quanto a nós, por causa de nossos pecados é que padecemos;

[33] e se o Senhor nosso Deus se irou um pouco contra nós para nos castigar e corrigir, tornar-se-á a reconciliar outra vez com os seus servos.

[34] Tu, porém, ó malvado e o mais perverso de todos os homens, não te ensoberbeças loucamente erguido em vãs esperanças, quando levantas a mão contra os servos de Deus,

[35] porque ainda não escapaste ao juízo de Deus omnipotente, que tudo vê.

[36] Meus irmãos, depois de terem suportado agora uma dor transitória, entraram já na aliança da vida eterna; tu, porém, tens de sofrer, pelo juízo de Deus, a pena justamente devida à tua soberba.

[37] Eu como meus irmãos, entrego o meu corpo e a minha vida em defesa das leis de meus pais, rogando a Deus que, quanto antes, se mostre propício à nossa nação e te constranja, por meio de tormentos e de flagelos, a confessar que ele é o único Deus.

[38] Oxalá que na minha morte e na de meus irmãos se detenha a ira do Todo-Poderoso, que justamente caiu sobre todo o nosso povo.

[39] Então o rei, abrasado em ira, embraveceu-se contra este mais cruelmente que contra os outros, não podendo sofrer ver-se assim escarnecido.

[40] Morreu este jovem sem se contaminar, confiando inteiramente no Senhor.

[41] A mãe foi a última a sofrer a morte, depois de seus filhos.

e da mãe.

[42] Mas, acerca de banquetes rituais (pagãos) e de crueldades excessivas, já é bastante o que temos dito.

2º Macabeus, 7